Stephen King, escritor de inúmeros best sellers, nunca ligou muito para as adaptações de suas obras. Para ele, nenhum dos filmes inspirados em seus livros – nem mesmo “O Iluminado”, de Stanley Kubrick – chegou aos pés do que sua obra significava. Ele tem razão? Sim, mas em partes. É muito complicado adaptar um livro para longa metragem, sem perder detalhes e pedaços da trama. Cinema é um meio totalmente visual, que causa sensações através de suas imagens, enquanto o livro precisa, através de palavras, causar as mesmas sensações. Claro que um escritor vai achar que sua obra saiu prejudicada ao ser adaptada. Mesmo assim, várias histórias de Stephen King foram muito bem representadas nas telas. Além de “O Iluminado”, que eu citei acima, ainda tem “A Espera de Um Milagre”, que foi indicado ao Oscar, “A Tempestade do Século”, que foi feito para TV americana, e “1408”, que foi o filme de suspense mais visto no Brasil ano passado.

Agora, “O Nevoeiro” entra para esta seleta lista de ótimas adaptações do mestre do suspense. O filme de Frank Darabont, o mesmo cineasta responsável por “A Espera de Um Milagre”, traz a pura essência da mensagem que King quer passar com suas obras. Todas suas histórias são extremamente claustrofóbicas: o pai de família que fica preso no hotel, o escritor frustrado que fica trancado no terrível quarto 1408 ou toda a cidade que é obrigada a permanecer num abrigo contra a neve em “A Tempestade do Século”.

A partir daí surgem os conflitos centrais: ao se confinar o ser humano diante do desconhecido, do que ele seria capaz? Com inteligência e elegância, Stephen King sempre usa seus personagens para retratar diversas partes da nossa diversificada camada social. Em “The Mist” aparecem todos esses elementos: moradores presos num supermercado depois de um nevoeiro que invadiu a cidade, o medo do desconhecido e a falta de visão para o que está acontecendo do lado de fora deixa todos apavorados. Isso é uma metáfora para nossa sociedade, pois é incrível como as pessoas se desesperam ao enfrentar algo desconhecido. A ignorância, seja ela religiosa (que é mostrada com louvor no filme) ou apenas momentânea causada por uma situação inusitada, pode levar o ser humano ao desespero e a loucura, principalmente se estiver preso. O mercado de “O Nevoeiro” trancafia no mesmo espaço pessoas completamente diferentes: a beata, o juiz, o machão, a enfermeira sexy, a criança assustada, a velha sábia e os caipiras figurantes e facilmente persuasivos.

No final das contas, o convívio entre opiniões e personalidades distintas acaba sendo mais complicado que enfrentar as próprias criaturas que habitam a névoa. Tenso, absolutamente brutal e comovente, o filme te leva num caminho dramático e desesperador até seu desfecho inacreditável.